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Posts com Tag ‘controle social’

A ausência do atendimento de saúde específico para a mulher

“Na questão da saúde da mulher não há uma comissão ou discussão dentro do Conselho de Saúde”, explica a segunda secretária do Conselho, Juliana Maciel. Segundo ela, isso é reflexo da ausência de ações da prefeitura voltadas para a saúde integral da mulher. “O problema é o foco no corte de verbas nos casos de prevenção ou projetos informativos e educacionais. A saúde feminina não é apenas para a gestante”, complementa.

Entretanto, ao conversar sobre a saúde da mulher com dois representantes da Secretaria Municipal de Saúde, ambos mencionaram apenas projetos para as gestantes.

Antônio Arinaldo Lopes da Silva, gerente do Programa de Saúde da Família, relacionou a questão da saúde específica ao projeto “Mãe Pontagrossense” – que ainda está sendo implantado na cidade. “Nos postos, existem atividades específicas para os idosos e para as gestantes. No Centro Municipal da Mulher, também há o atendimento às gestantes. A saúde como um todo é para todas as pessoas: homens, crianças, mulheres, idosos. Não existe hoje especialidade da mulher como gênero”, afirma.

Cléo Smiguel, diretora de Atenção Básica, ao ser questionada sobre programas da saúde da mulher respondeu: “Nós trabalhamos apenas com as gestantes. Nós temos um programa específico pra gestante na Estratégia de Saúde da Família. Nós temos semanalmente a reunião com as gestantes, onde ocorre todo o acompanhamento delas na unidade. Não só de saúde, mas também o acompanhamento psicológico, que é um trabalho voltado para a mãe e o bebê, mas isso é pra gestante em si”. (Confira o restante da entrevista aqui).

O Portal da Saúde do Governo Federal, porém, apresenta planos nacionais que incluem: mulheres negras e indígenas, lésbicas e bissexuais, mulheres com AIDS, saúde das adolescentes e a violência doméstica e sexual da mulher – todas são questões que vão além da mulher gestante ou do planejamento familiar.

No PSF do Esplanada, a única atividade para as mulheres é feita para as gestantes

Para a professora de Maria Iolanda de Oliveira, do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do Núcleo de Estudos da Violência Contra a Mulher (NevicomPG), a questão da violência é mais relacionada ao papel da assistente social. “É um problema bem maior que isso e há relação com a saúde, mas como o campo é bem amplo, alguns pontos são deixados de lado”, explica. Maria Iolanda exemplifica também a questão do esporte, que está relacionada à qualidade e à saúde diretamente, mas pouco se vê falar disso nas unidades de saúde.

Carlos Henrique Ferreira Camargo, professor de Bioética do curso de Medicina da UEPG, acredita que esse é mais um conceito que está mudando. “Com o nível de especialização dos profissionais, houve uma tendência para se concentrar apenas nos sintomas e suas causas, ao invés de todo o contexto”, afirma. Segundo ele, essa é uma falha que já foi percebida e está sendo mudada aos poucos nas instituições de ensino. “A visão de que a saúde da mulher se concentra apenas no reprodutivo hoje em dia é muito menor. A maior dificuldade está em colocar em prática ações gerais do governo federal para a realidade local”, finaliza.

Juliana Maciel explica como a ausência da especificidade de gênero prejudica o atendimento na cidade

Antônio Arinaldo Lopes da Silva afirma que a prefeitura não possui programas específicos para a mulher

Leia aqui a cartilha completa do Governo Federal explicando as diretrizes para o Plano Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher.

Na fila com as usuárias do Esplanada

Cerca de 40 pessoas já esperavam às 12 horas para a abertura do posto às 13 horas

Assim como cada caso é um caso, cada paciente tem uma relação diferente com o posto do bairro Esplanada. A enfermeira da unidade, Samuara Hassan, afirma que apesar dos problemas técnicos e de contratação de pessoal, o atendimento está muito melhor do que há seis meses. Leia mais

Superlotação no PSF do Esplanada

Para conseguir marcar horário às 13 horas, algumas pessoas chegam às 11 horas da manhã

O posto do Programa de Saúde da Família (PSF) José da Silva Ribeiro, localizado no bairro Esplanada, possui uma rotina de atendimentos mais movimentada do que no Santa Lúcia. “É o postinho com maior número de pacientes da cidade, pois cobrimos uma área maior do que deveríamos atender”, explica a enfermeira Samuara Hassan, que trabalha no PSF há um ano e três meses. Leia mais

O trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde no Esplanada

Em um dos acompanhamentos domiciliares, Rosana agenda a visita do médico

No posto de saúde José da Silva Ribeiro, localizado no bairro Esplanada, existem duas equipes do Programa de Saúde da Família (PSF). A equipe é responsável pelo atendimento de até 4.500 pessoas, mas a região não possui o número proporcional de equipes para os 19 mil moradores da área. Leia mais

A não-representatividade do Conselho da Mulher

O Conselho Municipal da Mulher existe desde novembro de 1995, mas é marcado pela pouca visibilidade na cidade. Na última Conferência Regional, no mês de setembro, promovida pela entidade para articular questões políticas a serem discutidas na Conferência Estadual da Mulher, cerca de quarenta pessoas participaram.

Para a presidente do Conselho, Maristela Mattos, há uma desvalorização do órgão por parte dos cidadãos. “Acredito que o interesse deve vir da população em procurar o Conselho, contribuindo com propostas e ideias, para então em conjunto colocarmos as políticas em prática”, afirma.

Luci Terezinha Milan representa a Ordem dos Advogados do Brasil de Ponta Grossa (OAB-PG) no Conselho e concorda com a afirmação da presidente, mas acrescenta outras dificuldades para uma representatividade efetiva. “A função social do Conselho é eficaz, embora haja ausência de pessoal, de divulgação da entidade e falta de recursos”, afirma. Luci foi presidente do Conselho no período de 2004-2006. Segundo ela, o que mais prejudica o progresso nessa questão é a incompatibilidade dos interesses políticos. “Quando a gestão política é contrária às suas posições ideológicas, há uma resistência aos projetos. É uma situação velada, mas infelizmente acontece”, completa.

III Conferência Regional de Políticas para as Mulheres

III Conferência Regional de Políticas para as Mulheres ocorreu no dia 30 de agosto de 2011

A professora Maria Iolanda de Oliveira, do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do Núcleo de Estudos da Violência Contra a Mulher (NevicomPG) é contrária ao argumento de que a sociedade deve procurar o Conselho. “É a gestão pública que coordena e deve criar mecanismos pra fazer essa defesa à proteção do direito e possibilitar à população que ela tenha onde ir pra fazer a sua denúncia ou reivindicação. É aí que está a efetividade da lei”, explica.

Segundo o sociólogo Pablo Ornelas Rosa, a representatividade de um conselho está diretamente ligada às contribuições para a sociedade. “Se as políticas não funcionam é mais fácil culpar os participantes, mas o que não ocorre é uma revisão do contexto e das demandas. Uma política pública eficaz se define quando há análise da realidade para que depois os resultados possam ser postos em prática”, esclarece.

Pablo, que também foi vice-presidente do CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente em Florianópolis, acredita que, para que os conselhos atinjam a legitimidade, as reinvidicações dos cidadãos não podem ser bloqueadas pelo governo vigente. “Se há autonomia da sociedade civil para cobrar do Estado as políticas públicas aí há uma troca interessante de exigências, pois o Estado não tem interesse que a população mostre a fragilidade do trabalho governamental”, afirma. Segundo ele, fomentar o exercício do controle social é uma das alternativas de despertar a participação, mas para que isso aconteça é preciso que a equidade de poder exista na prática.

As propostas da III Conferência foram as mesmas do evento anterior, em 2007. Maria Iolanda acredita que isso também demonstra a não-representatividade do Conselho. “Se os tópicos foram repetidos, significa que nada foi conquistado desde então. Acaba ficando um discurso vazio, pois não há perspectiva de que a nova discussão chegará em algum lugar”, completa. Luci Milan conta que a participação no evento foi afetada pela chuva e ter sido em dia de semana. “Além disso, foi meio atropelado na hora de convidar as pessoas. Acabou ficando mais no boca a boca. Apesar de termos TV local, só foi publicado uma nota nos jornais. As cidades vizinhas, como Castro, Irati e Carambeí não compareceram”.

Ao ser questionada sobre as eleições para representantes do Conselho, Maristela explicou que não há processo eletivo. “Eu mesma fui indicada pela Prefeitura em 2007 para a posição e então montei uma chapa. No final desse ano, haverá novas indicações”, completa. Além de presidente do Conselho, ela trabalha na Secretaria Municipal de Educação desde 2005.

Luci Milan explica que a presidência é decidida por indicação das conselheiras titulares. No caso das entidades governamentais, elas são escolhidas de acordo com a proximidade da área de atuação do conselho. As entidades não-governamentais são indicadas pela presidente, e estas devem assinar um documento confirmando a participação.

Algumas das ações realizadas pelo Conselho são palestras educativas nas escolas municipais, cursos em parceria com a Agência do Trabalhador e o projeto Casa Abrigo, contra a violência doméstica.

Participaram da mesa de abertura a vereadora Ana Maria Holleben de Melo (dir) e Maristela Mattos, presidente do Conselho (centro)

Atualmente, o Conselho é formado por nove representantes do governo (Universidade Estadual de Ponta Grossa, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Assistência Social,  Secretaria Municipal de Administração e Negócios Jurídicos, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Saúde, Delegacia da Mulher, Núcleo Regional de Educação de Ponta Grossa e Instituto Nacional do Seguro Social) e dez da sociedade civil (Rede Feminina de Combate ao Câncer, Movimento de Conscientização da Raça Negra, Movimento de Ação e Constituição Política, Núcleo Regional de Serviço Social, Clube de Soroptimistas de Ponta Grossa, Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Ponta Grossa, União das Associação de Moradores de Ponta Grossa, Lions Clube de Ponta Grossa Cruzeiro do Sul, União das Mulheres Pontagrossenses e a Ordem dos Advogados do Brasil).

Segundo a presidente, apenas nove representantes participam ativamente e algumas entidades não fazem parte do Conselho ou estão extintas: “a Rede Feminina Conta o Câncer, por exemplo, pediu ser removida do grupo e a União das Mulheres Pontagrossenses não existe mais, mas ainda consta no decreto”, diz. O Conselho possui uma sala-sede no Centro de Ação Social de Ponta Grossa, onde ocorrem as reuniões mensais. Entretanto, não há uma pessoa responsável pelo atendimento ao público.

A  reportagem fez um teste para tentar contatar o Conselho pelo número do Centro de Ação Social, mas a telefonista afirmou não ter conhecimento do Conselho da Mulher estar localizado no Centro. Em uma segunda tentativa, o telefonista que atendeu encaminhou a ligação para a sala, mas ninguém atendeu.

Serviço:

As reuniões do Conselho Municipal da Mulher ocorrem mensalmente no Centro de Ação Social (Atrás do Shopping Palladium).

Telefone: 3026-9578 (Sede)

9974-1354 (Maristela Mattos, Presidente)

Maria Iolanda de Oliveira define as funções do Conselho:

Maristela Mattos, presidente do Conselho, afirma que falta interesse por parte da população:

Maristela Mattos fala sobre as atividades do Conselho: