O trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde no Esplanada
No posto de saúde José da Silva Ribeiro, localizado no bairro Esplanada, existem duas equipes do Programa de Saúde da Família (PSF). A equipe é responsável pelo atendimento de até 4.500 pessoas, mas a região não possui o número proporcional de equipes para os 19 mil moradores da área. Com isso, há superlotação, filas no horário que o postinho abre e disputa pelas vagas semanais.
O PSF conta com 15 Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), que devem fazer as visitas domiciliares para os pacientes e mapeamento da situação da saúde no bairro. As ACS servem como um elo na relação entre a comunidade e os profissionais da saúde. Uma delas é Rosana Aparecida de Ramos Lima, que trabalha no postinho há sete anos. Segundo ela, a profissão não é pra qualquer um: “eu faço a comparação com o palhaço de circo. Parece bobagem, mas realmente envolve conquistar a confiança do ‘público’”, brinca.
Rosana gosta do que faz, mas isso não muda sua opinião crítica sobre as condições de trabalho. “Infelizmente, nossa função não é muito valorizada. Estamos em contato direto com pacientes, que podem ter desde tuberculose até hanseníase e ficamos em risco”. Outra questão que incomoda, segundo ela, é a da insegurança: “visitamos usuários de drogas na região e nunca se sabe quando eles estão num dia bom ou não. Acredito que é outro perigo que corremos durante o serviço”, finaliza. Rosana é responsável por 227 famílias na micro área número quatro, localizada na região do Parque Nossa Senhora das Graças.
Além dos acompanhamentos domiciliares, as ACS são responsáveis por relatórios semanais sobre as visitas e por fornecer informações sobre exames e consultas no posto. Rosana conta que as ACS possuem outra responsabilidade: a supervisão de atividades complementares no postinho.
As atividades dependem muito das opções, necessidades e interesses do bairro. No PSF do Santa Lúcia, por exemplo, são mais de seis programas diferentes. Segundo a enfermeira do posto do Esplanada, Samuara Hassan, devido à contratação recente de dois médicos, as atividades ainda estão em implementação. “Atualmente, temos o clube de mães, o grupo de adolescentes que se reúne sem uma data fixa e também há a caminhada semanal com os idosos”, diz.
Para a professora de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Maria Iolanda de Oliveira, a rotatividade dos funcionários pode ser um ponto negativo na manutenção das atividades. “Isso faz com que o vínculo com a comunidade seja menor, além de afetar a periodicidade das ações”, declara.
Rosana participa do clube de mães, com reunião toda segunda à tarde, que tem como principal atividade o artesanato. “Em outros postos, as agentes comunitárias contribuem, mas não são as responsáveis pelas atividades. Aqui, somos nós que corremos atrás de divulgar as reuniões, manter o grupo, conseguir lanche”, explica.
Marli da Rosa da Silva também é ACS do Esplanada há um ano e faz visitas na região do Monte Carlo. Mas ela já tem experiência prévia: trabalhou como agente na cidade onde morava anteriormente, Telêmaco Borba. “Eu já conhecia a rotina de trabalho, então logo me acostumei. A principal dificuldade que enfrentei foi conseguir me aproximar das pessoas, mas sabia que levaria tempo e hoje não troco essa área por nada”, conta.
Marli, assim como outras ACS que estão há menos de dois anos trabalhando, também não fez o curso técnico necessário para exercer a profissão. “Pra mim fica mais fácil por já ter estudado anteriormente em Telêmaco, mas é sempre bom estar se atualizando. Ainda estamos no aguardo do contato da prefeitura”, diz.
As ACS do postinho explicam que fazem a visita domiciliar a cada mês na mesma casa. Marli afirma que a maioria das conversas é com as mulheres: “elas tendem a cuidar mais da saúde, são mais preocupadas com isso e gostam de se informar também sobre a situação do resto da família”. Marli conta que também são elas que exigem mais atenção na hora do atendimento. “De certa forma, vejo uma relação do nosso trabalho com isso. Como elas estão sempre tirando dúvidas conosco, esperam uma consulta mais detalhada com o médico”, afirma.
Rosana acredita que, apesar da desvalorização, o trabalho das agentes é muito importante para a saúde coletiva. “Precisamos cobrar as pessoas para que se cuidem, evitando problemas mais sérios depois. É uma forma de educá-las”, afirma. Rosana já foi presidente da associação do bairro e utiliza um pouco dessa popularidade para despertar nas pessoas a exigência de um atendimento de qualidade. “O funcionamento adequado do postinho depende 50% dos profissionais e 50% dos usuários, que precisam nos informar sempre se estão satisfeitos”, finaliza.
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