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A importância da humanização no atendimento

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a humanização da saúde está ligada à atenção básica como prioridade e o envolvimento dos profissionais no contexto local, bem como nas atividades sociais de uma comunidade. É a partir da proximidade que se pode compreender as exigências e necessidades específicas de um bairro, por exemplo.

Para o Ministério da Saúde, a Política Nacional de Humanização (PNH) possui como suporte a ética, a consideração com a subjetividade dos indivíduos e a política organizacional do sistema. Na prática, a implementação da humanização é mais difícil, envolvendo questões enraizadas na rotina do atendimento.

A professora de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Maria Iolanda de Oliveira, explica que a humanização é um processo gradual, que depende de fatores como: valor adequado de recursos, profissionalização da equipe médica, capacitação constante do grupo e valorização do trabalho. “A composição de um quadro efetivo resulta em um suporte para a população, que terá acesso à informação e à orientação sobre a saúde, principalmente no Programa da Saúde da Família, pois foca na prevenção”, afirma.

A ACS Rosana faz acompanhamento domiciliar após cirurgia dos moradores

Atualmente, a temática também está mais presente nas universidades, resultando em um impacto positivo para os futuros profissionais. Carlos Henrique Ferreira Camargo, professor de Bioética do curso de Medicina da UEPG, diz que o conceito humanístico está mais arraigado agora, pois a própria ideia é recente, surgida na década de 90. “A humanização é uma mudança da cultura paternalista que existia na relação médico-paciente. Ou seja, é necessário compreender primeiro na teoria que a saúde e o tratamento devem ser discutidos com o paciente, ao invés de imposto pelo médico”, explica.

Para a professora de Saúde Pública do curso de Enfermagem da UEPG, Ana Paula Xavier Ravelli, a humanização significa incluir o paciente como parte ativa do processo do tratamento, além de levar em consideração o contexto social. “Compreender a realidade das pessoas é entender que, em alguns casos, uma pessoa possui diabetes ou pressão alta por limitações financeiras que afetam as opções alimentares”, exemplifica.

Ana Paula também trabalhou durante seis anos no Programa de Saúde da Família e consegue relacionar a humanização na prática profissional, pois há uma equipe completa, que presta todo o atendimento possível, mas próximo da relação pessoal. “O ciclo vital deve ser o foco da saúde. Ou seja, são as faixas etárias: criança, adolescente, adulto e idoso, que definem o atendimento como um todo integral”, completa. Segundo ela, as discussões do atendimento específico para a mulher ajudaram a definir o ciclo vital como prioridade. “A partir da década de 60, com o movimento feminista, as mulheres tiveram mais espaço para exigir direitos, inclusive na saúde e isso está diretamente ligado à integralidade do atendimento e ao ciclo vital”, afirma.

As visitas duram cerca de 15 minutos e abordam questões de reconsulta, exames e medicamentos

A enfermeira do PSF Eugênio José Bocchi, na Santa Lúcia, Ângela Bonzanini, concorda que o Programa está unido à participação social na saúde. “É uma visão distanciada do atendimento hospitalocêntrico, justamente por ter vindo das exigências da população”, completa.

A humanização é percebida também pelas usuárias do postinho, pois são elas que recorrem ao atendimento com frequência e podem avaliar a situação da saúde no bairro. Carmen Lúcia de Oliveira, de 31 anos, mora na Santa Lúcia há 6 anos e explica que os médicos antes não eram tão atenciosos. “Você chegava no posto e não era atendido de forma satisfatória. Quando saía do consultório, percebia que nem tinha falado nada, pois não dava tempo”, conta.

Ana Rosa Santana, usuária do PSF da Santa Lúcia, de 48 anos, acredita que a qualidade de atendimento afeta diretamente a frequência que os moradores procuram o postinho. “No bairro circula a informação se o médico é atencioso ou não. Se o profissional conversa, dá abertura pra que se fale sobre os sintomas ou às vezes conversa sobre assuntos que a gente nem sabe que afeta a saúde”, conta. Ao ser questionada sobre se conhecia a humanização e poderia defini-la, a partir da sua experiência, Ana Rosa disse que acreditava ser uma prática “de respeito com todas as pessoas, levando em consideração suas próprias histórias e limitações”, finaliza.

Veja na entrevista com Ana Paula Xavier Ravelli a relevância da humanização para a população:

Maria Iolanda de Oliveira aborda as dificuldades de implementação da Humanização:

Antônio Arinaldo Lopes da Silva, gerente do Programa de Saúde da Família em Ponta Grossa, fala sobre a humanização:

Leia também – Programa de Saúde da Família: a humanização como foco

Infográfico: Linha do tempo do Sistema de Saúde no Brasil

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